Just not today

A depressão cresce em mim. Traidora, asfixiante, devoradora. Tinge de negro meu horizonte de possibilidades, esfrega na cara que nada sou, nada tenho. O que contar? O que escrever? O que lembrar? Nada. Míseros momentos roubados da vida de outros, participações tímidas e facilmente esquecíveis em outras vidas, em outras histórias. A sensação é de ser protagonista numa comédia de humor negro de quinta. Como se passasse a vida a ver outras histórias e filmes mais brilhantes que os seus, com roteiros e atuações que fazem seus momentos bons parecerem ridículos.

A depressão me faz lembrar tudo o que queria ter vivido e não vivi. Tudo o que queria ser e não sou, tudo o que poderia ter sido e não fui. Está relacionada, em mim, mais do que à vontade de ter o que não se tem, à vontade de ser o que não se é. E não se pode mudar a si mesmo. Não verdadeiramente. Não completamente. Não da maneira que realmente importa.

Ela espera os dias em que a alma se enfraquece, nos quais pode reinar sem concorrência. Tem a dor e a tristeza como aliados. Caminha de mãos dadas com a inveja, e traz um sorriso maléfico no peito e garras afiadas para estraçalhar seu coração. Às vezes, tentar ser positivo e lembrar-se o que tem de bom dá certo. Mas só as vezes. Quando a depressão, aquela maldita, está despreparada.

Mas ela não reina todos os dias. Continuo em guerra, continuo lutando. Continuo acreditando que seu domínio não será eterno. Que haverá mais dias coloridos, cheios, intenso, doces. Que sou ótima como sou, sem precisar ser diferente. 

Que, um dia, vou conseguir perceber que o copo está meio cheio. 

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