Meio-Vazio


Não dá. Não consigo. Não há maneira de ver o maldito copo meio cheio. Por mais que me esforce, por mais que fixe os olhos até ficar quase vesga, em minha mente continua ressoando a mesma ladainha, como disco arranhado numa velha vitrola. 

Meio-vazio.

A analogia do copo me é tão pungente que chego a ficar sem palavras. Representa tão bem e de forma tão simples um conflito interno com o qual luto cada mísero segundo do meu dia. O pessimismo assombra meus pensamentos com tanta frequência que virou um velho conhecido, daqueles de quem você não gosta, mas também nada faz para quebrar o vínculo que os une.

Geralmente, vivo numa montanha russa emocional, intercalando momentos de pura euforia e confiança com longos períodos de negativismo e descrédito. Numa hora estou no topo do mundo, braços abertos, vento nos cabelos e a confiança de que tudo aquilo abaixo só espera para ser conquistado. Na outra, tentando inutilmente ver através da muralha construída com baixa-estima e desesperança, o mundo do outro lado longe demais de ser alcançado, quiçá conquistado.

Entre o vai-e-vem dos meus próprios sentimentos, vou me corroendo por dentro, me consumindo, esticando, contorcendo, forçando ao máximo a pequena Pollyanna que ainda saltita no peito, mesmo cercada por ondas negras de desânimo. 

E assim, vou respirando, lutando, sobrevivendo, amando, na expectativa de que, um dia, o copo esteja meio-cheio.

Share this:

COMENTÁRIOS

0 comentários:

Postar um comentário

Libere-se, expresse-se, derrame-se em elogios ou críticas. Este espaço é seu.