Nobres, corpetes e escândalos
Se tem um tipo de romance que
vende muito, é o histórico. Difícil não suspirar com uma época em que duques,
condes e marqueses circulavam pelos salões de baile. Em que é uma verdade
universalmente conhecida que todo homem de posse de boa fortuna deve estar em
busca de uma esposa.
Em que declarações de amor veem acompanhadas por um “ardentemente”. Em que o
ponto alto do seu dia pode ser simplesmente tocar na mão de seu amado.
Entre suspiros, esquecemos convenientemente que as mulheres naquela época não podiam ter outro destino a não ser casar e ter filhos; que saiam da tutela rígida dos pais direto para as dos maridos; que não podiam receber herança (no caso de filha mulher, os bens iam pro parente do sexo masculino mais próximo); e que sua sexualidade era extremamente reprimida, sendo a virgindade um bem preciosíssimo que só podia ser dado ao marido (o qual era escolhido por seus pais, levando em consideração título e fortuna).
Esse lado menos "romântico" da coisa é exposto no livro Jogos do Prazer, de Madeline Hunter, terceiro da série Os Rothwells, publicada pela Editora Arqueiro. Esqueça os salões de baile e declarações de amor ardente. A protagonista do livro, Roselyn Longworth, se depara com o que há de mais feio e sórdido na nobre e rica sociedade da época, e é justamente um homem sem título, que venceu na vida por seus próprios esforços e por isso é desprezado pelos bens nascidos, que a salva de um destino medonho e a faz acreditar de novo... no amor.
Roselyn Longworth refletiu sobre sua desgraça.
O inferno não era feito de fogo e enxofre, concluiu. Era feito de um cruel autoconhecimento. No inferno, você aprende a verdade sobre si mesmo. Enfrenta as mentiras que disse à própria alma para justificar um erro.
O inferno também era a humilhação infinita, exatamente o que ela sentia naquela festa numa casa de campo.
Depois que o irmão de Roselyn fraudou o banco do qual era sócio e fugiu com o dinheiro, ela sabia que suas chances de um bom casamento estavam arruinadas. Mas não esperava ser vendida em um leilão, como uma coisa usada que o dono não quer mais, pelo visconde que lhe fez tantas juras e promessas de amor. Para sua sorte, é arrematada por Kyle Bradwell, um homem honesto e íntegro que a trata com o respeito e consideração que ela não recebeu de seus pares.
O livro, curtinho, trata basicamente do relacionamento dos dois: ela, cínica pela experiência que passara; ele, não tão bondoso assim e com segundas intenções. A trama é um tanto arrastada, Rosalyn hesita, demora e toma decisões quanto ao irmão meio estúpidas, que podem exasperar o leitor. Apesar do tema, e do início agitado, que tem um ritmo excelente e é muito bem escrito, o livro peca no meio da estória, por sua vagareza e ausência de uma trama que realmente prenda o leitor. Embora seja bastante eficaz ao mostrar as dificuldades das mulheres solteiras da época que não contavam com a proteção da família ou do marido, não é um livro que recomendo com entusiasmo a leitura.
O misterioso marquês de Easterbrook apresentado na obra parece ser um personagem cujo livro em que for protagonista valerá muito a pena ler, fiquei curiosa. Fora o dele, a experiência com esse livro não me empolgou para ler os primeiros e demais livros da série.
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