#DLdoTigre 2015: Por Lugares Incríveis


“Ainda estou aqui, e sou grato por isso, porque senão perderia este momento. Às vezes é bom estar desperto.
– Então não foi hoje – canto -, porque ela sorriu para mim.”

Theodore Finch é o cara esquisito do colégio. Tachado como “Theodore Aberração”, cataloga estatísticas sobre suicídio e vive pesquisando qual é a melhor forma de dar fim à própria vida. Violet Markey, por sua vez, era uma garota popular, namorada do cara com quem todas as meninas da escola sonham, inteligente e com boas notas, mas que vê seu mundo desabar quando sobrevive a um acidente de carro – e sua irmã não. Os dois se conhecem numa situação nada comum – ela está a um passo de pular do alto da torre do sino do colégio, enquanto ele se pergunta se aquela seria uma boa maneira de morrer. Graças a um trabalho em dupla de geografia, saem por aí conhecendo os lugares incríveis do estado em que moram, e acabam descobrindo no outro, a vontade para continuar vivendo.

“Cada dia um escolhe um lugar, mas também devemos estar dispostos a ir aonde a estrada nos levar, o que inclui lugares grandiosos, pequenos, bizarros, poéticos, bonitos, feios, surpreendentes. Como a vida. Porém, absolutamente, incondicionalmente e decididamente nenhum lugar comum”.

Sabe aqueles livros que você começa a ler despretensiosamente, sem muitas expectativas, quer só algo pra passar o tempo e, quando vê, já é de manhã e você não dormiu nada, mas precisa ir estudar ou trabalhar? Por Lugares Incríveis, da Jennifer Niven, é um desses. Peguei para ler um capítulo ou dois antes de dormir, mas empolguei tanto com a leitura que quando me dei conta, o sol já estava nascendo.

A trama parece simples: dois adolescentes cheios de traumas e sofrimentos, à beira do suicídio, se encontram e saem conhecendo os lugares incríveis do estado em que moram, enquanto despertam um no outro a vontade de viver. Mas é muito mais que isso. Você ri, suspira, torce pelos personagens, se apaixona por eles, fica tenso e ansioso pelo que vai acontecer, chora e quando termina o livro, mesmo sendo cinco da manhã, quer imediatamente encontrar alguém para compartilhar como é boa a história.


Theodore Finch é um personagem apaixonante. Ele sofre uns “apagões”, períodos no qual não recorda o que aconteceu e luta para ficar acordado. Sofre de depressão e de outros problemas psicológicos, e tem que lidar com um pai violento e uma família desestruturada. No começo do livro, faz seis dias que está acordado desde o último “apagão”, que durou umas seis semanas. Ele está sempre pensando na morte, é honesto e direto, e suas interações com Violet me fizeram rir alto várias vezes.

“Finch: Se você não quiser conversar pelo Facebook, posso ir aí.
Eu: Agora?
Finch: Bom, tecnicamente, em cinco ou dez minutos. Tenho que me vestir primeiro, a não ser que você prefira que eu vá pelado, além do tempo que vou gastar no caminho.
Eu: Está tarde.
Finch: Isso é relativo. Olha só, eu não acho que está tarde. Eu acho que está cedo. É o início das nossas vidas. O início do ano. Se você parar para pensar, vai ver que está mais cedo que tarde. A gente só vai conversar. Nada mais que isso. Não estou dando em cima de você.
Finch: A menos que você queira. Que eu dê em cima de você.
Eu: Não.

Violet está desolada pela morte da irmã mais velha. Elas eram super amigas, e ela fica desolada, totalmente perdida e sentindo culpa de ter sido a única sobrevivente. É engraçado que todos tratam Violet com luvas de pelica, enquanto Finch não pensa duas vezes em cutucar onde mais dói, em força-la a sair da inércia, da tristeza que a consome. É irônico que a pessoa que traz Violet de volta à vida seja aquela que mais pensa em morrer.

"Hoje de manhã seus pais mostraram a pessoa que você costumava ser. A outra Violet parece divertida e até meio durona, mesmo tendo um gosto musical horroroso. Agora tudo o que vejo é uma garota morrendo de medo de viver, Vejo as pessoas darem um empurrãozinho de vez em quando, mas nunca forte o suficiente porque não querem contrariar a pobre Violet. Você precisa de um baita tranco, não de um empurrãozinho. Você precisa retomar as rédeas. Ou vai ficar em cima do parapeito que construiu para si mesma para sempre”.


O livro é narrado ora sob o ponto de vista de Finch, ora sob o de Violet. A autora escreve com sensibilidade sobre a morte, um tema difícil, no livro abordado tanto pela obsessão de Finch em morrer, como pelo profundo pesar de Violet ao perder um ente querido. É difícil soltar o livro, e a cada página você se vê mais ansioso para saber o que vai acontecer depois. Uma tensão que te faz devorar página atrás de página. O interessante é que depois de conhecer Finch, Violet deixa de riscar os dias que faltam para se formar e sair da cidade, e começa efetivamente a vivê-los.

Por Lugares Incríveis é um livro que, muito mais que falar sobre a morte, enfatiza o amor, a amizade e a vida. Muito além de um simples romance juvenil, é um livro daqueles life-changing, que não te toca sem te mudar de algum modo. E pra melhor. É uma leitura maravilhosa, que te deixa transbordando de emoções e pensamentos, e que, mesmo se pudesse, eu não mudaria uma vírgula. Um livro pra guardar na estante, na mente e no coração. 

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2 comentários:

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