Amor de Carnaval
Te conheci sob o calor de Olinda, subindo uma ladeira ao som do maracatu. Você estava vestido de Batman, a máscara cobrindo o rosto, deixando apenas o seu lindo sorriso à mostra. Senti seu beijo antes de ouvir sua voz, e embalada pela folia, me deixei levar, embriagada pelo ritmo quente do carnaval.
Trocamos beijos, risadas e
olhares. Eu estava vestida de pirata, uma fantasia comum, mais uma dentre
tantas outras. Não me atrevera a colocar o ridículo tapa-olho, o espartilho
apertava, e a faixa evitava que a franja mal cortada caísse sobre os olhos. Por
um momento, desejei estar de Mulher Gato. Mas se as orelhinhas ficariam bem, a
roupa preta e colada sob o inclemente sol pernambucano me mandaria pra
emergência antes que você conseguisse pronunciar insolação. Aliás, como você
estava se aguentando dentro da sua fantasia era uma das coisas que me intrigam
até hoje.
A outra é o seu nome. Conversamos
tanta bobagem entre latas de cerveja e beijos molhados, subindo e descendo ladeiras,
cantando e pulando, tentando lembrar o que vinha depois do “sentir na
embriaguez do frevo, que entra na cabeça...lálálálálá PÉ”, mas não nos
apresentamos. Arrisquei uns passos trôpegos de frevo, você riu e eu bati com a
sombrinha colorida emprestada de alguém na sua cabeça, me arrependendo um
minuto depois, me desmanchando em desculpas sem nexo.
Você riu tanto que as lágrimas caíram
dos olhos. E depois sumiu, em meio a multidão de um bloco, e deixou para trás a
lembrança de seus beijos travosos de umbú cajá. E assim, tomando umas e outras
e caindo no passo, nos encontramos e nos perdemos numa dia de carnaval, o
Batman e uma pirata de franja mal cortada, combinação insólita que só ocorre
mesmo durante a folia, onde tudo é possível e nada é proibido.
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