Quando a morte vem do passado



Harper Curtis tinha uma vida razoavelmente normal, até encontrar uma velha casa em Chicago, nos anos 1930. Sendo impelido pela casa, que funciona como um portal para o futuro, a matar as meninas cujos nomes iluminam as paredes, ele se insere na vida delas, esperando o momento perfeito para matá-las. O plano parece perfeito: viajar através do tempo para assassinar suas vítimas, voltando tranquilamente para sua época, onde está acima de todas as suspeitas. Ou seria perfeito, se não tivesse cometido um erro: deixar uma das vítimas viva.

Kirby Mazrachi gasta todo seu tempo, esforços e dinheiro à procura do homem que, num dia tranquilo, fez com que visse a cor das próprias entranhas. Determinada a fazê-lo pagar por seus crimes, ela começa a trabalhar num jornal, para trabalhar com o ex-repórter policial Dan Velasquez. É com a ajuda dele que ela descobre que a verdade está muito além do que pode imaginar. Afinal, como se vingar de alguém que não vive no mesmo tempo que você?

Esse não é  o tipo de livro que normalmente me atrai, li e o resumo e fiquei curiosa. Alguma coisa ali chamou minha atenção o suficiente para que eu o pedisse. Quando o livro enfim chegou, porém, não fui imediatamente lê-lo. Posterguei até não poder mais, me perguntando porque o tinha escolhido… até que li os primeiros capítulos. E não soltei mais.

No começo, a narrativa parece um pouco confusa. Vemos Kirby em diferentes idades, em diferentes anos, assim como Harper e suas vítimas, às quais ele visita tanto na infância quanto depois de adultas. São vários ângulos, todos narrados em terceira pessoa, com o nome do protagonista do capítulo e a data em que se passa aquele trecho de narrativa. Achei muito interessante esses distintos focos.

A autora é eficiente em construir a personalidade do Harper. Os conflitos internos, a crueldade, o impulso por matar e causar dor. Tão eficiente, que após ler o livro, na primeira noite, sonhei três vezes, e nas 3 figuraram em meus pesadelos psicopatas, assassinatos e morte. Não muito agradável, verdade. Mas uma prova da habilidade da autora.

"Ele passa direto pela guerra, que é exaustiva, com os racionamentos e o medo estampado nos rostos das pessoas, e vai até 1950. Diz a si mesmo que está apenas dando uma olhada, mas sabe que uma das meninas está por ali. Ele sempre sabe.
É o mesmo aperto no ventre que lhe trouxe até a Casa. A ponta afiada da consciência quando chega num lugar onde deveria estar e reconhece um dos talismãs do Quarto. É um jogo. Encontrar as meninas em diferentes tempos e lugares. Elas estão jogando também, preparadas, esperando o destino que ele escreveu para elas".

Kirby é uma personagem muito interessante. Mesmo depois do que passou, continua tendo uma força e um senso de humor admirável. Não é aqueles justiceiros unidimensionais que só se importa com vingança, tão comuns nos livros por aí. Ela é muitíssimo bem construída, e é divertido acompanhar suas interações com o Dan.

Apesar das viagens no tempo, a trama não fica confusa e é muito interessante acompanhar tanto Harper na sua psicótica missão de matar as meninas cujos nomes ficam “iluminados” nas paredes da casa; como os esforços de Kirby para encontrá-lo. Algumas reviravoltas inesperadas na trama a tornam ainda mais legal de ler.

Esse é um livro daqueles que você tem ciúme de emprestar e vai indicar pra todo mundo, porque é muito legal para que só você o leia. Agora, quando comprar, não faça como eu: leia logo, prometo que não vai se arrepender.

E, se puder, evite ler à noite. Ou fique preparado para ter o Harper assombrando seus sonhos, assim como os meus.

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